domingo, 30 de setembro de 2018

A palavra da cruz


A palavra da cruz*

Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem, mas para nós que somos salvos é o poder de Deus. - Paulo (I Coríntios, 1:18.)

A mensagem da cruz é dolorosa em todos os tempos.

Do calvário desceu para o mundo uma voz, a princípio desagradável e incompreensível.

No martirológio do Mestre situavam-se todos os argumentos de negação superficialmente absoluta.

O abandono completo dos mais amados.

A sede angustiosa.

Capitulação irremediável.

Perdão espontâneo que expressava humilhação plena.

Sarcasmo e ridículo entre ladrões.

Derrota sem defensiva.

Morte infamante.

Mas o Cristo usa o fracasso aparente para ensinar o caminho da Ressurreição eterna, demonstrando que o “eu” nunca se dirigirá para Deus, sem o aprimoramento e sem a sublimação de si próprio.

Ainda hoje, a linguagem da cruz é loucura para os que permanecem interminavelmente no círculo das reencarnações de baixo teor espiritual; semelhantes criaturas não pretendem senão mancomunar-se com a morte, exterminando as mais belas florações do sentimento. Dominam a muitos, incapazes do próprio domínio, ajuntam tesouros que a imprudência desfaz e tecem fios escuros de paixões obcecantes em que sucumbem, vezes sem conto, à maneira da aranha encarcerada nas próprias teias.

Repitamos a mensagem da cruz ao irmão que se afoga na carne e ele nos classificará à conta de loucos, mas todos nós, que temos sido salvos de maiores quedas pelos avisos da fé renovadora, estamos informados de que, nos supremos testemunhos, segue o discípulo para o Mestre, e o Mestre subiu ao Pai, na glória oculta da crucificação.  


*= grifos nossos

Fonte: 
Fonte Viva / pelo Espírito Emmanuel; [psicografado por] Francisco Cândido Xavier. – Brasília; FEB, 2015. 393 p.

sábado, 29 de setembro de 2018

Na esfera íntima


Na Esfera Íntima*

Cada um administre aos outros o dom como o recebeu, como bons dispensadores da multiforme graça de Deus.  (I Pedro, 4:10)

A vida é máquina divina da qual todos os seres são peças importantes, e a cooperação é fator essencial na produção da harmonia e do bem para todos.

Nada existe sem significação.

Ninguém é inútil.

Cada criatura recebeu determinado talento da Providência divina para servir no mundo e para receber do mundo o salário da elevação.

Velho ou moço, com saúde do corpo ou sem ela, recorda que é necessário movimentar o dom que recebeste do Senhor, para avançares na direção da grande Luz.

Ninguém é tão pobre que nada possa dar de si mesmo.

O próprio paralítico, atado ao catre da enfermidade, pode fornecer aos outros a paciência e a calma, em forma de paz e resignação.

Não olvides, pois, o trabalho que o Céu te conferiu e foge à preocupação de interferir na tarefa do próximo, a pretexto de ajudar.

Quem cumpre o dever que lhe é próprio, age naturalmente no benefício do equilíbrio geral.

Muitas vezes, acreditando fazer mais corretamente que os outros o serviço que lhes compete, não somos senão agentes de desarmonia e perturbação.

Onde estivermos, atendamos com diligência e nobreza à missão que a vida nos oferece.

Lembra-te de que as horas são as mesmas para todos e de que o tempo é o nosso silencioso e inflexível julgador.

Ontem, hoje e amanhã são três fases do caminho único.

Todo dia é ocasião de semear e colher.

Observemos, assim, a tarefa que nos cabe e recordemos a palavra do Evangelho: “Cada um administre  aos outros o dom como o recebeu, como bons dispensadores da multiforme graça de Deus”, para que a graça de Deus nos enriqueça de novas graças.


*= grifos nossos


Fonte:
Fonte Viva / pelo Espírito Emmanuel; [psicografado por] Francisco Cândido Xavier. – Brasília; FEB, 2015. 393 p.

quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Minuto Glorioso, Ditoso, Inesquecível

Minuto Glorioso, Ditoso, Inesquecível

Trecho* do livro Há dois mil anos, de Emmanuel, na sua primeira parte, no capítulo V, que narra o encontro de Publius Lentulus  com Jesus.

                                   ( ... )

                                    Das águas mansas do lago de Genesaré parecia-lhe emanarem suavíssimos perfumes, casando-se deliciosamente ao aroma agreste da folhagem.

                                    Foi neste instante que, com o espírito como se estivesse sob o império de estranho e suave magnetismo, ouviu passos brandos de alguém que buscava aquele sítio.

                                    Diante de seus olhos ansiosos, estacara personalidade inconfundível e única. Tratava-se de um homem ainda moço, que deixava transparecer nos olhos, profundamente misericordiosos, uma beleza suave e indefinível. Longos e sedosos cabelos molduravam-lhe o semblante compassivo, como se fossem fios castanhos, levemente dourados por luz desconhecida. Sorriso divino, revelando ao mesmo tempo bondade imensa e singular energia, irradiava da sua melancólica e majestosa figura uma fascinação irresistível.

                                    Publius Lentulus não teve dificuldade em identificar aquela criatura impressionante, mas no seu coração marulhavam ondas de sentimentos que, até então, lhe eram ignorados. Nem a sua apresentação a Tibério, nas magnificências de Capri, lhe havia imprimido tal emotividade ao coração. Lágrimas ardentes rolaram-lhe dos olhos, que raras vezes haviam chorado, e força misteriosa e invencível fê-lo ajoelhar-se na relva lavada em luar. Desejou falar, mas tinha o peito sufocado e oprimido. Foi quando, então, num gesto de doce e soberana bondade, o meigo Nazareno caminhou para ele, qual visão concretizada de um dos deuses de suas antigas crenças, e, pousando carinhosamente a destra em sua fronte, exclamou em linguagem encantadora, que Publius entendeu perfeitamente, como se ouvisse o idioma patrício, dando-lhe a inesquecível impressão de que a palavra era de espírito para espírito, de coração para coração:

                                    - Senador, por que me procuras? – e, espraiando o olhar profundo na paisagem, como se desejasse que a sua voz fosse ouvida por todos os homens do planeta, rematou com serena nobreza – Fora melhor que me procurasses publicamente e na hora mais clara do dia, para que pudesses adquirir, de uma só vez e para toda a vida, a lição sublime da fé e da humildade... Mas Eu não vim ao mundo para derrogar as leis supremas da Natureza e venho ao encontro do teu coração desfalecido!...
                              
                                    Publius Lentulus nada pôde exprimir, além das suas lágrimas copiosas, pensando amargamente na filhinha, mas o Profeta, como se prescindisse das suas palavras articuladas, continuou...
                                    
                                    - Sim... não venho buscar o homem de Estado, superficial e orgulhoso, que só os séculos de sofrimento podem encaminhar ao regaço de meu Pai; venho atender as súplicas de um coração desditoso e oprimido e, ainda assim, meu amigo, não é o teu sentimento que salva a filhinha leprosa e desvalida pela ciência do mundo, porque tens ainda a razão egoística e humana; é sim, a fé e o amor de tua mulher, porque a fé é divina... Basta um raio só de suas energias poderosas para que se pulverizem todos os monumentos das vaidades da Terra...

                                    Comovido e magnetizado, o senador considerou, intimamente, que seu espírito pairava numa atmosfera de sonho, tais as comoções desconhecidas e imprevistas que se lhe represavam no coração, querendo crer que os seus sentidos reais se achavam travados num jogo incompreensível de completa ilusão.

                                    - Não, meu amigo, não estás sonhando... – exclamou meigo e enérgico o Mestre, adivinhando-lhe os pensamentos. – Depois de longos anos de desvio do bom caminho, pelo sendal dos erros clamorosos, encontras, hoje, um ponto de referencia para a regeneração de toda a tua vida.

                                    “Está, porém, no teu querer o aproveitá-lo agora, ou daqui a alguns milênios... Se o desdobramento da vida humana está subordinado às circunstâncias, és obrigado a considerar que elas existem de toda a natureza, cumprindo às criaturas a obrigação de exercitar o poder da vontade e do sentimento, buscando aproximar seus destinos das correntes do bem  e do amor aos semelhantes.

                                    “Soa para teu espírito, neste momento, UM MINUTO GLORIOSO, se conseguires utilizar tua liberdade para que seja ele, em teu coração, doravante,um cântico de amor, de humildade e de fé, na hora indeterminável da redenção, dentro da eternidade...

                                    “Mas ninguém poderá agir contra a tua própria consciência, se quiseres desprezar indefinidamente este MINUTO DITOSO!

                                    “Pastor das almas humanas, desde a formação deste planeta, há muitos milênios venho procurando reunir as ovelhas tresmalhadas, tentando trazer-lhes ao coração as alegrias eternas do reinado de Deus e de sua justiça!...”   

                                    Publius fitou aquele homem extraordinário, cujo desassombro provocava admiração e espanto.

                                    Humildade? Que credenciais lhe apresentava o Profeta para lhe falar assim, a ele senador do Império, revestido de todos os poderes diante de um vassalo?

                                    Num minuto, lembrou a cidade dos césares, coberta de triunfos e glórias, cujos monumentos e poderes acreditava, naquele momento, fossem imortais.

                                    - Todos os poderes do teu império são bem fracos e todas as suas riquezas bem miseráveis...

                                    “As magnificências dos césares são ilusões efêmeras de um dia, porque todos os sábios, como todos os guerreiros, são chamado no momento oportuno aos tribunais da justiça de meu Pai que está no Céu. Um dia, deixarão de existir as suas águias poderosas, sob um punhado de cinzas misérrimas. Suas ciências se transformarão ao sopro dos esforços, de outros trabalhadores mais dignos do progresso, suas leis iníquas serão tragadas no abismo tenebroso desses séculos de impiedade, porque só uma lei existe e sobreviverá aos escombros da inquietação do homem – a lei do amor, instituída por meu Pai, desde o princípio da Criação...

                                    “Agora, volta ao lar, consciente das responsabilidades do teu destino...

                                    “Se a fé instituiu na tua casa o que consideras a alegria com o restabelecimento de tua filha, não te esqueças que isso representa um agravo de deveres para o teu coração, diante de nosso Pai Todo-Poderoso!...”

                                    O senador quis falar, mas a voz tornara-se-lhe embargada de comoção e de profundos sentimentos.

                                    Desejou retirar-se, porém, nesse momento, notou que o Profeta de Nazaré se transfigurava, de olhos fitos no céu...

                                    Aquele sítio deveria ser um santuário de suas meditações e de suas preces, no coração perfumado da Natureza, porque Publius adivinhou que Ele orava intensamente, observando que lágrimas copiosas lhe lavavam o rosto, banhado então por uma claridade branda e misericordiosa, evidenciando a sua beleza serena e indefinível melancolia...   

                                    Nesse instante, contudo, suave torpor paralisou as faculdades de observação do patrício, que se aquietou estarrecido.

                                    Deviam ser 21 horas, quando o senador sentiu que despertava.

                                    Leve aragem acariciava-lhe os cabelos e a Lua entornava seus raios argênteos no espelho carinhoso e imenso das águas.

                                    Guardando na memória os mínimos pormenores daquele MINUTO INESQUECÍVEL, Publius sentiu-se humilhado e diminuído, em face da fraqueza de que dera testemunho diante daquele homem extraordinário.
                                    ( ... )

*= grifos nossos

Fonte:
Há dois mil anos: episódios da história do cristianismo no século I: romance / pelo Espírito Emmanuel; [psicografado por] Francisco Cândido Xavier. – 49 ed. – 11 imp. – Brasília; FEB, 2017. 349 p.

Ídolos

Ídolos*

Que vos abstenhais das coisas sacrificadas aos ídolos? (Atos, 15:29)

Os ambientes religiosos não perceberam ainda todo o conceito de idolatria.

Quando nos referimos a ídolos, tudo parece indicar exclusivamente as imagens materializadas nos altares de pedra. Essa é, porém, a face mais singela do problema.

Necessitam os homens exterminar, antes de tudo, outros ídolos mais perigosos, que lhes perturbam a visão e o sentimento.

Demora-se a alma, muitas vezes, em adoração mentirosa.

Refere-se o versículo às “coisas sacrificadas aos ídolos”, e o homem está rodeado de coisas da vida. Movimentando-as, a criatura enriquece o patrimônio evolutivo. É necessário, no entanto, as que se encontram consagradas a Deus das sacrificadas aos ídolos.

A ambição de alcançar os valores espirituais, de acordo com Jesus, chama-se virtude; o propósito de atingir vantagens transitórias no campo carnal, no plano da inquietação injusta, chama-se insensatez.

Os “primeiros lugares” que o Mestre recomendou evitemos, representam ídolos igualmente. Não consagrar, portanto, as coisas da vida e da alma ao culto do imediatismo terrestre, é escapar de grosseira posição adorativa.

Quando te encontres, pois, preocupado com os insucessos e desgostos, no círculo individual, não olvides que o Cristo, aceitando a cruz, ensinou-nos o recurso de eliminar a idolatria mantida em nosso caminho por nós mesmos.


*= grifos nossos


Fonte:
Caminho, verdade e vida / pelo Espírito Emmanuel; [psicografado por] Francisco Cândido Xavier. – 29 ed. – 1 imp. – Brasília; FEB, 2015. 393 p.

domingo, 9 de setembro de 2018

Após Jesus

Após Jesus*


E, quando o iam levando, tomaram um certo Simão, cireneu, que vinha do campo, e puseram-lhe a cruz às costas, para que a levasse após Jesus.  (Lucas, 23:26)


A multidão que rodeava o Mestre no dia supremo era enorme.

Achavam-se ali os gozadores impenitentes do mundo, os campeões da usura, os ridicularizadores, os ignorantes, os Espíritos fracos que reconheciam a superioridade do Cristo e temiam anunciar as suas próprias convicções, os amigos vacilantes do Evangelho, as testemunhas acovardadas, os beneficiados pelo Divino Médico, que se ocultavam, medrosos, com receio de sacrifícios...

Mas um estrangeiro, instado pelo povo, aceitou o madeiro, embora constrangidamente, e seguiu carregando-o após Jesus.

A lição, entretanto, seria legada aos séculos do futuro...

O mundo ainda é uma Jerusalém enorme, congregando criaturas dos mais variados matizes, mas se te aproximas do Evangelho, com sinceridade e fervor, colocam-te a cruz sobre o coração.

Daí em diante, serás compelido às maiores demonstrações de renúncia, raros te observarão o cansaço e a angústia e, não obstante a tua condição de servidor, com os mesmos problemas dos outros, exigir-te-ão espetáculos de humildade e resistência, heroísmo e lealdade ao bem

Sofre e trabalha com os olhos voltados para a divina Luz.

Do alto descerão para o teu Espírito as torrentes invisíveis das fontes celestes, e vencerás valorosamente.

Por enquanto, a cruz ainda é o sinal dos aprendizes fiéis.

Se não tens contigo as marcas do testemunho pela responsabilidade, pelo trabalho, pelo sacrifício ou pelo aprimoramento íntimo, é possível que ames profundamente o Mestre, mas é quase certo que ainda não te colocaste, junto dele, na jornada redentora.

Abençoemos, pois, a nossa cruz e sigamo-Lo, destemerosos, buscando a vitória do Amor e a ressurreição eterna.


*= grifos nossos


Fonte:


Fonte Viva / pelo Espírito Emmanuel; [psicografado por] Francisco Cândido Xavier. – Brasília; FEB, 2015. 393 p.