Na revista Veja de nº
2493, de 31 de agosto de 2016, tem uma matéria que fala sobre um grande
cientista da história humana. A reportagem é assinada por Filipi Vilicic, que
narra a ”biografia excepcional que conta as viagens e descobertas do alemão
Alexander Von Humboldt (1769-1859), o cientista que definiu a ideia de ecologia
e influenciou intelectuais e estadistas”. Entre as suas obras, pesquisas,
viagens etc, destaca-se, na reportagem citada, expedições a várias partes do
planeta, passando desde a América do Sul, Central e América do Norte, indo até
a Ásia. Publicações de livros como Ensaio sobre a Geografia das Plantas, Viagem
às Regiões Equinociais do Novo Continente, Narrativa Pessoal, Kosmos, entre
outros. Foi amigo de Thomas Jefferson, Napoleão Bonaparte, Simón Bolivar. Escrevia
cartas a vários intelectuais da época, por medo de morrer em campo. Ele preconizou
o aquecimento global ao afirmar que o desmatamento e gases emitidos pelas
nascentes indústrias modificariam o clima terrestre. Tinha a tese de que o
planeta e todo o cosmo é uma unidade composta de interconexões. O naturalista
chegou a visão de que cada planta e cada animal, ao lado de fatores como
temperatura e umidade, determinam o equilíbrio dos ecossistemas. Escalou o vulcão
Chimborazo, no Equador, então tido como a mais alta montanha da Terra. Ao olhar
a natureza de cima, Humboldt concluiu que todos os elementos são interconectados,
antecipando a Teoria de Gaia, de James Lovelock. Sua obra é vastíssiima, e
essas poucas linhas não preenche 1%. O repórter diz que ele queimou a sua
fortuna financiando viagens, por ser filho de um militar e de uma rica herdeira
de um industrial.
Se você prestou atenção
no ano de sua desencarnação, perceberá que foi 2 anos após a publicação do
Livro dos Espíritos de Allan Kardec. E na Revista Espírita de 1859, em junho,
há um texto interessantíssimo sobre um certo Humboldt. Transcrevo aqui as
perguntas na íntegra para vossa apreciação. São 26 perguntas e observações importantes.
São Luís era o
Patrono Espiritual da Sociedade Parisiense de Estudos Psicológicos e Arago era
um dos Espíritos comunicantes.
ESPÍRITO ALEXANDRE DE HUMBOLDT
Falecido em 6 de maio de 1859; evocado na Sociedade
Parisiense de
Estudos Espíritas nos dias 13 e 20 do mesmo mês.
[A São Luís] – Poderíamos evocar o Espírito
Alexandre de Humboldt, que acaba de falecer?
Resp. – Se
quiserdes, amigos.
1. Evocação.
Resp. –
Eis-me aqui. Como isto me espanta!
2. Por que isto vos espanta?
Resp. –
Estou longe do que era, há apenas alguns dias.
3. Se vos pudéssemos ver, como seríeis visto?
Resp. – Como
homem.
4. Nosso chamado vos contraria?
Resp. – Não.
5. Tivestes consciência de vosso novo estado logo
após a morte?
Resp. – Eu a
esperava há muito tempo.
Observação –
Entre homens que, como o Sr. Humboldt, morrem de morte natural, pela extinção
gradual das forças vitais, o Espírito se reconhece muito mais prontamente do
que naqueles em que a vida é bruscamente interrompida por um acidente ou morte violenta,
posto já existir um começo de desprendimento antes de cessar a vida orgânica.
No Sr. Humboldt a superioridade do Espírito e a elevação dos pensamentos
facilitaram esse
desprendimento, sempre mais lento e mais penoso
naqueles cuja vida é inteiramente material.
6. Tendes saudades da vida terrestre?
Resp. – Não,
absolutamente. Sinto-me feliz; não me vejo mais na prisão; meu Espírito é
livre... Que alegria! E que doce momento me trouxe esta nova graça de Deus!
7. Que pensais da estátua que vos será erigida na França,
embora sejais estrangeiro?
Resp. – Meus
agradecimentos pessoais pela honra que me é feita. O que sobretudo aprecio em
tudo isso é o sentimento de união que o fato demonstra, o desejo de ver
extintos todos os ódios.
8. Vossas crenças mudaram?
Resp. – Sim,
muito. Mas ainda não revi tudo. Esperai um pouco, antes de me falardes
com mais profundidade.
Observação – Esta
resposta e o termo revi são característicos do estado em que ele se encontra.
Apesar do pronto desprendimento de seu Espírito, existe ainda certa confusão de
idéias. Havendo deixado o corpo apenas há oito dias, ainda não teve tempo de
comparar suas idéias terrestres com as que pode ter
atualmente.
9. Estais
satisfeito com o emprego que fizestes de vossa existência terrena?
Resp. – Sim. Cumpri mais
ou menos o objetivo a que me propus. Servi à Humanidade, razão por que hoje sou
feliz.
10. Quando vos propusestes este objetivo?
Resp. – Ao vir para Terra.
Observação –
Desde que se propôs um objetivo ao vir à Terra, é porque tinha realizado um
progresso anterior e sua alma não nascera ao mesmo tempo que o corpo. Essa
resposta espontânea não pode ter sido provocada pela natureza da pergunta ou
pelo pensamento do interlocutor.
11. Escolhestes
esta existência terrena?
Resp. – Havia numerosos
candidatos a esta obra; roguei ao Ser por excelência que ma concedesse, e a
obtive.
12. Lembrais da existência que precedeu a que
acabais de deixar?
Resp. – Sim;
ela se passou longe de vós, num mundo muito diferente da Terra.
13. Esse mundo é
igual, inferior ou superior à Terra?
Resp. – Desculpai; é
superior.
14. Sabemos que nosso mundo está longe da perfeição
e, conseqüentemente, não nos sentimos humilhados por haver outros acima de nós.
Mas, então, como viestes a um mundo inferior àquele que habitáveis?
Resp. – Não
damos aos ricos? Eu quis dar; por isso desci à cabana do pobre.
15. Poderíeis dar-nos uma descrição dos seres
animados do mundo em que habitáveis?
Resp. – Ao
vos falar há pouco, tinha esse desejo; mas compreendi, em tempo, que teria
dificuldade de vo-lo explicar perfeitamente. Ali os seres são bons, muito
bons; já compreendeis esse ponto, que é a base de todo o resto do sistema
moral naqueles mundos: nada ali entrava o desenvolvimento dos bons
pensamentos; nada lembra os maus; tudo é
felicidade, porquanto cada um está contente consigo mesmo e com todos os que o cercam.
Em relação à matéria e aos sentidos, qualquer descrição seria inútil. Que
simplificação na engrenagem de uma sociedade! Hoje, que me acho em condição de
comparar as duas, surpreendo-me com a distância. Não penseis que assim falo
para vos
desanimar; não, muito ao contrário. É necessário
que o vosso Espírito fique bem convencido da existência de tais mundos; então sentireis
um ardente desejo de os alcançar e o trabalho vos abrirá o caminho.
16. Esse mundo faz parte do nosso sistema
planetário?
Resp. – Sim;
está muito próximo de vós. Entretanto, não podeis vê-lo, porque não tem luz
própria e não recebe nem reflete a luz dos sóis que o rodeiam.
17. Há pouco havíeis dito que vossa precedente existência
se passara longe de nós e agora dizeis que esse mundo é muito próximo. Como
conciliar as duas coisas?
Resp. –
Considerando-se as vossas distâncias e medidas terrenas, ele está longe de vós.
Se, entretanto, tomardes o compasso de Deus e, num volver de olhos, tentardes
abranger toda a Criação, estará próximo.
Observação –
Evidentemente podemos considerá-lo longe se tomarmos como termo de comparação
as dimensões de nosso globo; mas está perto em relação aos mundos que se encontram
a distâncias incalculáveis.
18. Poderíeis precisar a região do espaço em que se
acha esse mundo?
Resp. – É
inútil. Os astrônomos jamais a conhecerão.
19. A densidade desse mundo è idêntica à do nosso globo?
Resp. – A
proporção é infinitamente menor.
20. Seria esse mundo da natureza dos cometas?
Resp. – Não;
absolutamente.
21. Se não tem luz própria, e não recebe nem
reflete a luz solar, nele reinará uma perpétua escuridão?
Resp. – Os
seres que lá vivem não necessitam absolutamente de luz; a obscuridade não
existe para eles; não a compreendem. Pensaríeis, caso fôsseis cegos, que
ninguém pudesse dispor do sentido da visão?
22. Conforme
certos Espíritos, o planeta Júpiter é muito superior à Terra; isso é exato?
Resp. – Sim; tudo quanto
vos disseram é verdade.
23. Revistes Arago depois que voltastes ao mundo
dos Espíritos?
Resp. – É
ele que me estendeu a mão quando deixei o vosso.
24. Em vida conhecestes o Espiritismo?
Resp. – O
Espiritismo, não; o magnetismo, sim.
25. Qual a vossa
opinião sobre o futuro do Espiritismo entre as corporações científicas?
Resp. – Grande; mas seu
caminho será penoso.
26. Pensais seja ele aceito algum dia pelas
organizações científicas?
Resp. –
Certamente. Acreditais, entretanto, que isso seja indispensável? Ocupai-vos,
antes de tudo, em inocular os seus primeiros preceitos no coração dos infelizes
que enchem o vosso mundo: é o bálsamo que acalma os desesperos e dá esperança.
Referëncias
KARDEC, A. Revista
Espírita. 1859. Federação Espírita Brasileira. Tradução de Evandro Noleto
Bezerra.
Disponível em https://pt.wikipedia.org/wiki/Alexander_von_Humboldt
Acessado em 28 dez. 2016.
VEJA, Revista. Edição
2.493. ano 49, nº 35. 31 de agosto de 2016. Pag. 88 – 91.