Chico – reflexões de ano novo*
Anotei o que Chico nos disse, certa vez:
- Estamos numa doutrina
de muitos contatos... Temos oportunidade de fazer muitos amigos... O trabalho a
ser desenvolvido é imenso... Temos a crença na imortalidade, o intercâmbio com
os irmãos desencarnados, o conhecimento do Evangelho... A visão que o
Espiritismo nos proporciona da Vida é maravilhosa... Compreendemos a função da
dor e adentramos a causa das provações humanas... Oramos, sabendo que a prece é
o nosso fio de ligação com Deus... As nossas perspectivas para o futuro da
Humanidade são as melhores... A nossa fé
é um tesouro! Mas, se somos muito requisitados, se temos muitos
envolvimentos doutrinários, muitas tarefas, compromissos, mediunidade, não podemos
nos esquecer de que o momento do testemunho é uma hora extremamente
solitária... A vivência cotidiana do Evangelho é pessoal; nem os espíritos poderão
substituir-nos, quando formos chamados à aplicação de tudo quanto já sabemos
ou, pelo menos, supomos saber... Este é o problema fundamental do espírita – a sua
própria renovação! O espírita que não se melhora não está assimilando a
Doutrina. Dizem que eu tenho escrito muitos livros... Tudo é obra dos Espíritos
Amigos. De fato, tenho recebido muita coisa, mas Emmanuel tem me ensinado que
nenhum que eu possa ter recebido ou que venha a receber vale pelo que eu esteja
fazendo de minha própria vida... Tenho visto tantos médiuns preocupados em
escrever, em publicar livros... Tudo muito justo – devemos fazer pela divulgação
da Doutrina o que pudermos; no entanto, depois de tantos livros publicados,
digo a vocês que a minha luta maior continua sendo comigo mesmo... Tantos conflitos
entre os companheiros de ideal, tantas disputas, tanta cizânia... Ora, após a
desencarnação, só poderemos recorrer às nossas próprias obras... Os benfeitores
espirituais, por mais queiram, nada poderão fazer que nos altere a realidade...
No Espiritismo, ninguém faz mais do que aquele que se esforça para viver conforme
crê – ou seja, colocando em prática a lição... As ações são minhas, mas os
livros pertencem aos espíritos!... Não posso reivindicar a obra de Emmanuel
para mim... Eu não fiz nada! O médium não passa de instrumento... Dei apenas do
meu tempo, e muito pouco: poderia ter dado mais, dormido menos, me preocupado
menos com os outros, mormente com aqueles que sempre criticaram as minhas imperfeições
no trabalho dos espíritos... Tenho receio de ver a minha ficha no Mundo
Espiritual... Não vou pedir para ver coisa alguma... Se eu puder continuar
trabalhando, renderei graças! A Misericórdia Divina há de me possibilitar
continuar rastejando para a frente...
Rastejando sim, mas para a frente!...
Não posso mais pensar em retrocesso... Então, eu não compreendo tanta vaidade,
tanta pretensão... Vamos preocupar-nos com os outros, mas para auxiliar...
Sem acrescentar palavras às palavras do nosso Chico,
entrego-as aos nossos irmãos de ideal, por indispensável convite à reflexão, no
ano a iniciar-se e ensejar o fim do 2º milênio.
*= grifos
nossos