sábado, 2 de setembro de 2017

Valéria

Valéria

- Chico, você já chorou?

- Sim, meu filho, muito. Vou-lhe contar uma história em que muito chorei.

Durante anos, visitamos uma amiga que Havia se tornado paralitica e muda, levando em cada visita um pacote de biscoitos, um pedaço de bolo ou um doce qualquer. Quando já havíamos  completado seis anos de visitas, lhe disse:

- Valéria, hoje estou com a impressão de que você pode falar. Fale, Valéria. Diga pelo menos “Jesus”.

Ela olhou-me demoradamente. Os olhos, límpidos com um céu sem nuvens. Fez um esforço  muito grande, mas não conseguiu falar.

Após a prece, voltei a insistir:

- Valéria, Jesus andou no mundo, curou tanta gente, tantos iam buscá-Lo nas estradas, ou na casa onde Ele permanecia e pediam-Lhe a graça da melhora ou da cura e foram curados. Imagine-se caminhando ao encontro de Jesus, embora você não ande há tantos anos. Imagine-se olhando-O e dizendo “Jesus”. Fale “Jesus”, Valéria.

Ela fez novamente um grande esforço, olhou-me demoradamente. Por fim, conseguiu dizer:

- “JESUSO”.

Fiquei muito emocionado e as lágrimas me vieram aos olhos.

Pedi a alguém que chamasse sua irmã:

- Valéria, minha filha, fale para sua Irma. Há muitos anos que ela não ouve o som de sua voz. Fale outra vez “Jesus”.

Ela nos olhou demoradamente. Fez novamente um esforço enorme e repetiu: “JESUSO”.

Quando nos retiramos, estávamos todos contentes e achávamos que, com o tempo, Valéria iria conseguir pronunciar algumas palavras.

Na semana seguinte, porém, ela desencarnou.

Alguns anos mais tarde, começou a aparecer-me uma entidade na forma de uma senhora muito bonita.

Quando chegava, todo o meu quarto ficava iluminado. Procedia então à transmissão do passe na região do tórax, mais propriamente sobre o coração. E assim procedeu por um mês, aproximadamente.

Foi nessa época que tive o primeiro enfarte.

Mais tarde, recuperado, graças à Misericórdia Divina, no período em que fiquei vinte dias mais ou menos imóvel, a entidade apareceu-me novamente. Então lhe disse:

- Ah! Minha irmã, agora compreendo porque você me dava passes no coração. Estava fortalecendo-me para resistir ao enfarte que viria, não é mesmo?

Acenou-me afirmativamente com a cabeça.

- Olhe, quero que me dê seu nome para eu poder orar por você. Estou-lhe muito grato pela carinhosa assistência.

- Chico, somos tão amigos que não vou lhe dar meu nome. Vou dizer uma palavra e você vai se lembrar de mim.

- Será, minha irmã?

- Tenho certeza, Chico.

- Então diz.

- “JESUSO”.

- Ah! Valéria, era você então... Como você está bonita... Eu não mereço a sua visita...

- Sim, eu mesma. Vim lembrar os nossos sábados em que orávamos tanto. Lembro-me com emoção da última palavra que pronunciei e vim trazer-lhe confiança em Jesus. O nome de Jesus tem muita força, Chico.

- Então, ela colocou a mão sobre o meu peito e a dor desapareceu.


Fonte:

Livro Chico, de Francisco. Adelino da Silveira. – São Paulo: Cultura Espírita União, 1987. 159 p. 

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