sexta-feira, 29 de junho de 2018

Serviço de Salvação

Serviço de Salvação*

E acontecerá que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.“ – Atos (2:21.)

Os Espíritos mais renitentes no crime serão salvos das garras do mal, se invocarem verdadeiramente o amparo do Senhor.

E é forçoso observar que chega sempre um instante, na experiência individual, em que somos constrangidos a recorrer ao que possuímos de mais precioso, no terreno da crença.

Os próprios materialistas não escapam a semelhante impositivo da luta humana; qual ocorre aos demais, nas contingências dilacerantes requisitam o socorro do dinheiro, da ciência provisória, das posições convencionalistas, que, aliás, em boa tese auxiliam, mas não salvam.

Indispensável se torna recorrer a Jesus para a solução de nossas questões fundamentais.

Invoquemos a compaixão dele e não nos faltará recurso adequado. Não bastará, contudo, tão somente aprender a rogar. Estudemos também a arte de receber.

Às vezes, surgem diferenças superficiais entre pedido e suprimento. O trabalho salvador do Céu virá ao nosso encontro, mas não obedecerá, em grande número de ocasiões, à expectativa de nossa visão imperfeita. Em muitos casos, a Providência divina nos visita em forma de doença, escassez e contrariedade...

A miopia terrena, todavia, de modo geral, só interpreta a palavra “salvação” por “vantagem imediata” e, por isso, um leve desgosto ou uma desilusão útil provocam correntes de lamentações improdutivas. Apesar de tudo, porém, o Cristo nunca deixa de socorrer e aliviar, e o seu sublime esforço de redenção assume variados aspectos tanto quanto são diversas as necessidades de cada um.

*= grifos nossos

Fonte:

Vinha de luz / pelo Espírito Emmanuel; [psicografado por] Francisco Cândido Xavier. – 28 ed.  – 1 imp. – Brasília: FEB, 2015. 445 p.

sábado, 16 de junho de 2018

Terra proveitosa

Terra proveitosa*

Por que a Terra que embebe a chuva, que cai muitas vezes sobre ela, e produz erva proveitosa para aqueles por quem é lavrada, recebe a benção de Deus. - Paulo. (Hebreus, 6:7.)

Os discípulos do Cristo encontrarão sempre grandes lições, em contato com o livro da Natureza.

O convertido de Damasco refere-se à terra proveitosa que produz abundantemente, embebendo-se da chuva que cai, incessante, na sua superfície, representando o vaso predileto de recepção das bênçãos de Deus.

Transportemos o símbolo ao país dos corações.

Somente aqueles espíritos, atentos aos benefícios espirituais, que chovem diariamente do céu, são suscetíveis de produzir as utilidades do serviço divino, guardando as bênçãos do Senhor.

Não que o Pai estabeleça prerrogativas injustificáveis. Sua proteção misericordiosa estende-se a todos, indistintamente, mas nem todos a recebem, isto é, inúmeras criaturas se fecham no egoísmo e na vaidade, envolvendo o coração em sombras densas.

Deus dá em todo o tempo, mas nem sempre os filhos recebem, de pronto, as dádivas paternais. Apenas os corações que se abrem à luz espiritual, que se deixam embeber pelo orvalho divino, correspondem ao ideal do Lavrador celeste.

O Altíssimo é o Senhor do Universo, sumo dispensador de bênçãos a todas as criaturas. No planeta terreno, Jesus é o sublime Cultivador. O coração humano é a terra.

Cumpre-nos, portanto, compreender que não se lavra o solo sem retificá-lo ou feri-lo e que somente a terra tratada produzirá erva proveitosa, alimentando e beneficiando na Casa de Deus, atendendo, destarte, a esperança do horticultor.   

*= grifos nossos

Fonte:
Caminho, verdade e vida / pelo Espírito Emmanuel; [psicografado por] Francisco Cândido Xavier. – 29 ed. – 1 imp. – Brasília; FEB, 2015. 393 p.

Não perturbeis

Não perturbeis*

Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem.  – Jesus (Mateus, 19:6)

A palavra divina não se refere apenas aos casos do coração. Os laços afetivos caracterizam-se por alicerces sagrados e os compromissos conjugais ou domésticos sempre atendem a superiores desígnios. O homem não ludibriará os impositivos da lei, abusando de facilidades materiais para lisonjear os sentidos. Quebrando a ordem que lhe rege os caminhos, desorganizará a própria existência. Os princípios equilibrantes da vida surgirão sempre, corrigindo e restaurando...

A advertência de JESUS, porém, apresenta para nos significação mais vasta.

“Não separeis o que Deus ajuntou” corresponde também ao “não perturbeis o que Deus harmonizou”.

Ninguém alegue desconhecimento do propósito divino. O dever, por mais duro, constitui sempre a Vontade do Senhor. E a consciência, sentinela vigilante do Eterno, a menos que esteja o homem dormindo no nível do bruto, permanece apta a discernir o que constitui “obrigação” e o que representa “fuga”.

O Pai criou seres e reuniu-os. Criou igualmente situações e coisas, ajustando-as para o bem comum.

Quem desarmoniza as obras divinas, prepare-se para a recomposição. Quem lesa o Pai, algema o próprio “eu” aos resultados da sua ação infeliz e, por vezes, gasta séculos, desatando grilhões...

Na atualidade terrestre, esmagadora percentagem de homens constitui-se de milhões em serviço reparador, depois de haver separado o que Deus ajuntou, perturbando, com o mal, o que a Providência estabelecera para o bem.

Prestigiemos as organizações do justo Juiz que a noção do dever identifica para nós em todos os quadros do mundo. Às vezes, é possível perturbar-lhe as obras com sorrisos, mas seremos invariavelmente forçados a repará-las com suor e lágrimas.

*= grifos nossos

Fonte:

Caminho, verdade e vida / pelo Espírito Emmanuel; [psicografado por] Francisco Cândido Xavier. – 29 ed. – 1 imp. - Brasília; FEB, 2015. 393 p.

sábado, 9 de junho de 2018

Sobre a Gratidão

Sobre a gratidão - Diálogo de Sócrates[1] com seu filho

“É preciso ensinar cuidadosamente à criança a odiar os vícios por sua própria estrutura e ensiná-las a natural deformidade, para que fujam deles não somente pelas ações, mas principalmente em seu coração; que um só pensamento de vício lhes seja odioso, seja qual for a máscara que use. Montaigne [2]


Sócrates, um dos filósofos mais importantes do mundo, foi também um educador por excelência, um pai atencioso e sábio.

Xenofonte, filósofo, historiador e chefe militar da Grécia antiga, foi discípulo de Sócrates e escreveu algumas passagens da vida íntima de seu mestre.

Conta Xenofonte que um dia Sócrates, notando que seu filho mais velho, Lamprocles, estava irritado com sua mãe, teve com ele o seguinte diálogo:

- Diz-me, ó meu filho, tu sabes que há homens a quem chamamos ingratos?

- Seguramente, respondeu o jovem.

- Então também sabes o que é preciso fazer para receber esse qualificativo?

- Sim. São chamados de ingratos aqueles que receberam benefícios e que, quando poderiam, não testemunharam reconhecimento.

- Percebes que os ingratos são classificados entre os homens injustos? (...)

- Parece-me que assim é. E creio que é sempre injusto não testemunhar reconhecimento àquele de quem recebemos um benefício, seja amigo ou inimigo.

- Se é assim, meu filho, a ingratidão não é pura injustiça?

- Sem dúvida.

- E um homem não é tanto mais injusto quanto maiores forem os benefícios recebidos, se é ingrato após ser beneficiado?

- Concordo.

- Pois bem, onde encontraremos alguém que tenha recebido mais benefícios do que o filho recebe de seus pais? É a eles que deve a sua existência, o espetáculo de tantas maravilhas, o gozo de tantos bens que os deuses concedem aos homens; e esses bens nos parecem tão preciosos, que nada tememos mais do que perdê-los.

Os Estados estabeleceram a pena de morte contra os maiores crimes, porque não imaginaram pena mais pavorosa para deter a injustiça.

O homem alimenta aquela que deve lhe dar filhos; pensa nos filhos que terá um dia, poupa antecipadamente, acumula em tão grande quantidade quanto possa, tudo o que crê ser útil para sustentar a vida da criança; a mulher recebe e conduz penosamente esse fardo que põe seus dias em perigo; dá a seu filho uma parte de sua própria substância, leva-o a bom termo e o coloca no mundo suportando dores cruéis. Depois, ela o alimenta e dele cuida, sem jamais receber por isso algum serviço, e sem que o filho saiba por si mesmo quem é sua benfeitora. Ele não pode dizer quais são suas necessidades, mas ela busca adivinhar o que lhe pode ser útil e lhe dar prazer, e se esforça para satisfazê-lo.

A mãe nutre seu filho durante muito tempo, e por ele suporta as fadigas de todos os dias e todas as noites, sem saber que reconhecimentos receberá por tanto esforço.

E os pais não se contentam somente em alimentar seus filhos; quando estes chegam numa idade em que podem se instruir, eles comunicam-lhes todos os conhecimentos úteis que eles próprios possuem, e os enviam para aprender com um outro o que creem não poder lhes ensinar, e tudo isso sem poupar cuidados nem despesas para torná-los o melhor possível.

- É certo, diz o jovem, que ela tenha feito tudo isso, e ainda mil vezes mais, no entanto, seu humor não é menos intolerável.[3]

- Não achas, rapaz, que a cólera de um animal seja mais insuportável que a de uma mãe?

- Não, certamente, pelo menos de uma mãe como a minha.

- Por acaso ela já te feriu com alguma mordida ou com um coice, como tanta gente já foi agredida por animais?

- Mas, por Júpiter, ela diz coisas que em vez de ouvir a gente prefere a morte.

- E tu, quantos dissabores insuportáveis não lhe causou, desde a tua infância, dia e noite, com teus gritos e tuas ações? Quanto sofrimento não lhe causaste com tuas enfermidades?

- Pelo menos eu jamais lhe disse ou fiz qualquer coisa que a fizesse corar de vergonha.

- Pois quê! Achas mais penoso ouvir o que tua mãe te diz, do que aos comediantes escutar as injúrias que se prodigalizam mutuamente nas tragédias?

- Mas eles não pensam que aquele que lhes acusa queira lhes infligir uma pena, que aquele que os ameaça queira lhes fazer algum mal, eis porque eles suportam tão facilmente, eu penso, tudo o que se lhes diz.

- E tu, que sabes bem que tua mãe, por mais que te diga não quer o teu mal, quer mesmo te ver mais feliz, te irritas com ela? Ou pensas que tua mãe seja tua inimiga?

- Não, certamente não é o que penso.

- Pois bem, essa mãe que te ama, que em tuas enfermidades te dedica todos os cuidados possíveis, que nada negligencia para que tenhas saúde e para que nada te falte, que roga aos deuses que te cumulem de bênçãos e faz votos e oferendas em teu nome, tu te queixas de seu humor? De minha parte, penso que se não podes suportar uma mãe dessas, não podes suportar nada de bom. Mas, diz-me, pensas que seja preciso ter consideração por alguém, ou não obedecer ninguém, nem a um general, nem a qualquer outro magistrado?

- Creio que seja preciso dedicar cuidados a certos homens.

- Tu queres, sem dúvida, agradar também a teu vizinho, para que ele acenda um fogo para ti quando necessites, para que queira te prestar algum serviço, e que  voluntariamente te socorra em caso de acidente?

- Sem dúvida.

- E quanto a um companheiro de viagem, de navegação, é indiferente para ti tê-lo por amigo ou 
inimigo, ou pensas que seria preciso obter sua benevolência?

- Sim, certamente.

- Logo, estás prestes a dar atenção a todo mundo, e pensa não dever consideração à tua mãe, que te ama mais que todos? (...)

- Assim, meu filho, se tu és sábio, pedirás aos deuses que perdoem tuas ofensas para com tua mãe, para que não te vejam como um ingrato, e não te recusem seus benefícios; tomarás cuidado também para que os homens, sabendo de teu pouco respeito para com teus pais, não te desprezem e não rejeitem tua amizade. Se eles suspeitassem que tu fostes ingrato para com teus pais, nenhum deles te julgaria capaz de ser reconhecido por algum benefício.[4]

Diálogos como esse entre Sócrates e seu filho não são comuns em nossos dias.

Como pai de sabedoria, o filósofo se dirige calmamente à razão de seu filho, com intuito de fazê-lo compreender que a ingratidão é uma injustiça e que inevitavelmente trará sofrimentos ao ingrato.

Sócrates não age como certos pais, que mais investem contra o corpo daquele que desejam ensinar do que à razão, e que mais apavoram e confundem os filhos do que os educam.

Sócrates não faz ameaças, não tenta convencer o filho com promessas, não grita nem agride a sua pessoa com xingamentos, pois seu objetivo é fazer refletir, é corrigir seu caráter, educar com base na razão, no bom senso, para o que é preciso calma e bons argumentos.

O fato de irritar-se com o filho quando este age mal, é demonstrar falta de argumentos, fraqueza moral, e é também a melhor maneira de não se obter o que se deseja, que é a educação do filho querido.


[1] Filósofo grego que viveu entre 469 a.C a 399 a.C.
[2] Ensaios, livro I - cap. XXII.
[3] Diz-se que Xantipa, esposa de Sócrates e mãe de Lamprocles, tinha um temperamento difícil.

[4] Traduzido pela equipe Filosofia no ar, a partir do texto francês XÉNOPHON – Entretiens Mémorables de Socrate,da coleção Les Auteurs Grecs, expliqués d’après une méthode nouvelle, par deux traductions françaises. Par une Société de professeurs et d’Hellénistes. Paris, Librairie de L. Hachette et Cie. 1846.)

sexta-feira, 1 de junho de 2018

Demonstrações

Demonstrações*


“E saíram os fariseus e começaram a disputar com ele, pedindo-lhe, para o tentarem, um sinal do Céu.”- (Marcos, 8:11)


            No Espiritismo cristão, de quando em quando aparecem aprendizes do Evangelho sumamente interessados em atender a certas requisições, no capítulo da fenomenologia psíquica.

                Exigem sinais do Céu, tangíveis, incontestáveis.
   
         Na maioria das vezes, porém, a movimentação não passa de simples repetição de gesto dos fariseus antigos.

            Médiuns e companheiros outros, em grande número, não se precatam de que os pedidos de demonstrações celestes são formulados, quase que invariavelmente, em obediência a propósitos inferiores.

            Há ilações lógicas no assunto, que importa não desprezarmos. Se um espírito permanece encarnado na Terra, como poderá fornecer sinais de Júpiter? Se as solicitações dessa natureza, endereçadas ao próprio Cristo, foram situadas no âmbito das tentações, com que argumento poderão impô-las os discípulos novos aos seus amigos do invisível?

            Ao invés disso, aliás, os aprendizes fiéis devem estar preparados para o trabalho demonstrativo de Jesus, na Terra.

            É óbvio que o cristão não possa provocar uma tela mágica sobre as nuvens errantes, mas pode revelar como se exerce o ministério da fraternidade no mundo. Não poderá desdobrar a paisagem total onde se movimentam as criaturas desencarnadas, em outros campos vibratórios; entretanto, está habilitado a prestar colaboração intensiva no esclarecimento dos homens do presente e do futuro.                

           Quem reclama sinais do Céu talvez será talvez ignorante ou portador de  má-fé; contudo, o seguidor da Boa Nova que procura satisfazer o insensato é distraído ou louco.

            Se te requisitam demonstrações exóticas, replica, resoluto, que não foste designado para a produção de maravilhas e esclarece a teu irmão que permaneces determinado a aprender com o Mestre a ciência da Vida Abundante, a fim de ofereceres à Terra o teu sinal de amor e luz, inquebrantável na fé, para não sucumbir às tentações.  


*= grifos nossos


Fonte:
Vinha de luz / pelo Espírito Emmanuel; [psicografado por] Francisco Cândido Xavier. – 28 ed. – 1 imp. – Brasília; FEB, 2015. 445 p.