quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

A Paz Duradoura

O caminho da Paz Duradoura

(Da entrevista concedida a Fenelon Almeida e publicada pelo jornal “O Povo”, de Fortaleza, Ceará, em 09.03.81)

P – A seu ver, qual o caminho que pode levar as nações a um entendimento satisfatório, e, conseqüentemente, a uma paz duradoura?

   - Creio que quando cada um de nós estiver cumprindo os deveres que nos competem, perante Deus e diante da vida, à frente dos outros e ante a nossa própria consciência, alcançaremos a paz duradoura. Sobre essa questão de solucionarmos os grandes problemas da comunidade, na base do esforço ou do sacrifício possíveis a cada um, temos o exemplo inesquecível do Ceará, na abolição do cativeiro em nosso País. Há mais ou menos um século, segundo acredito, o jangadeiro Francisco José do Nascimento, revoltado contra a escravidão, gritou na praia de Fortaleza: “Em minha jangada não mais aceitarei escravo algum, nem de bordo para a terra e nem de terra para bordo”. Outros jangadeiros, todos eles brasileiros simples e profundamente humanos, seguiram-lhes as normas. Naturalmente sofreram eles prejuízos consideráveis, abstendo-se de angariar ou aceitar fretes que lhes eram necessários à subsistência, mas sustentaram a própria palavra e a abolição na Província do Ceará começou com o exemplo dos humildes, conquistando corações em todas as classes sociais. Quando José do Patrocínio visitou a cidade de Fortaleza, em 1882, já encontrou clima perfeito destinado a basear a libertação dos nossos irmãos cativos. Todo o Ceará já possuía nobres figuras de homens dignos empenhados na libertação dos escravos, mas comoveu-se toda a Fortaleza com a pregação do admirável abolicionista. E os frutos da sementeira de Francisco José do Nascimento começaram a surgir. Se não me engano, em princípios de 1882, o município cearense de Acarape alforriou todos os seus escravos, demonstrando a repulsa da província ao cultivo delituoso da servidão humana. Depois de Acarape, São Francisco e Pacatuba fizeram o mesmo. Depois do exemplo de Sobral, libertando, espontaneamente, cento e dezessete escravos, a abolição em toda a província do Ceará se fez muito antes do Decreto de Maio de 1888, que declarou extinta a escravidão no País. Conforme verificamos, os dignos brasileiros do Ceará liquidaram o cativeiro à custa deles mesmos. Não pediram dinheiro emprestado a ninguém e n em convidaram outras províncias a se tumultuarem, a fim de acompanhá-los; não pregaram a subversão contra as leis do Império e nem aconselharam a desordem coletiva, a favor dos ideais da humanidade em que se inspiravam. Fazendeiros ou não, proprietários ou não, os nossos irmãos cearense preferiram o próprio sacrifício. Não hesitaram em ferir os próprios interesses e em diminuir as posses deles mesmos, mas repartiram com os nossos irmãos cativos, mais do que o pão e as vantagens que lhes pertenciam, e sim a própria liberdade, ensinando ao Brasil inteiro, sem influencias externas, que a liberdade de trabalhar para garantir os seus próprios caminhos é um dom de Deus para todas as criaturas humanas. Creia você que não faço essas referencias por bajulação ao nobre estado do Ceará, onde a Divina Providência me concedeu tantos amigos generosos e dedicados, mas porque, em se falando em entendimento entre comunidades e paz duradoura, não acredito que essas conquistas venham até nós por medidas de força ou através de movimentos compulsivos do relho verbal e, sim, à custa de nosso próprio suor, esforço, diligência e sacrifício, na compreensão e no auxilio de uns para com os outros, qual aconteceu com os cearenses unidos e livres do cativeiro, muito antes de surgir na capital do Império o decreto que extinguiu a escravidão em nosso País.

P – Que mensagem você gostaria de aqui deixar para os iniciadores da construção do Terceiro Milênio?
  
  - Prezado amigo, se eu dispusesse de autoridade, rogaria aos homens que estão arquitetando a construção do Terceiro Milênio, para colocarem no portal da Nova Era as inolvidáveis palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”.




Fonte:

Livro Chico, de Francisco. Adelino da Silveira. – São Paulo: Cultura Espírita União, 1987. 159 p. 

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